"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

22.12.05

nação

Neste ano de gordas atrações gringas, os três melhores shows que assisti foram brazucas - sem falso nacionalismo nem rasgação de seda - pra quê desperdiçá-la? Em julho, o Pato Fu fez show de lançamento do tão esperado disco com direito a robô fofinho comandado pela Fernanda cantando Simplicidade, A Musiquinha da Unimed e uma versão mais crua de Capetão. Faltou foi Noite Enluarada (trilha sonora do filme A Pessoa é para o que Nasce) e, como sempre, O peso das Coisas (Maria e Gabriel). Mas compensou. Aliás, Toda Cura Para Todo Mal, o show, ganhou o prêmio de melhor show de música popular da APCA recentemente. Los 4 Hermanos, em outubro, mandaram todas as músicas complexas e agridoces do mais novo álbum. Destaque para a visionária Horizonte Distante, a melancólica É de lágrima e para O vento triste e contagiante. O melhor momento continua sendo a performance inusitada e sincera de Rodrigo Amarante em "Quem Sabe?". O recinto em que aconteceu o show tava bem quente mas também valeu a pena. E neste mesmo dezembro em que vos escrevo assisti pela primeira vez a um show da Nação Zumbi. Apesar da qualidade de Propagando não dá pra ter idéia de como eles evoluem a cada riff/batida de tambor/sample. Com respeito e dignidade deixam bem claro que são uma banda independente dos trabalhos lançados com Chico Science. Agora, mais enigmáticos e mais ruidosos ecoando pelo mangue chapadão. Muita fumaça no ar - do palco para a platéia e vice-versa. O público era adulto e sabia o que estava fazendo - fazendo a cabeça. E ninguém ia apontar o dedo em riste na cara de ninguém pra censurar, oprimir, fazer calar ou apagar o baseado. As alusões ao uso da erva são trabalhadas com cuidado pela Nação Zumbi pra não correr o risco de levantar bandeira Legalize It e não atrair jovens novos rebeldes ansiosos por uma causa fácil. BNegão (sem os Seletores de Frequencia) dividiu os vocais com Jorge Du Peixe em Macô (!) e Quando a maré encher - o público quase todo se abriu naquela roda esquisita e violenta mais comumente habitada por homens pois requer força e virilidade. Até eu que pensava ter me aposentado dei alguns socos e pontapés para me defender. Entre vários dreadlock e black power , havia um neoQuerelle bem altivo e um pouco hipster. E também Detlef Warhol. Detlef é um elemento misterioso - e talvez até fictício - que circula com pouca assiduidade pelos movimentos culturais da cidade de Belo Horizonte. Detlef é também um dos últimos junkies vilipendiados vivos neste BraZil. O que mais ficou na minha memória foi RisoFlora. Algumas pessoas choravam muito, outras sorriam abertamente, outras se beijavam, muitas cantaram junto bem alto como se os rapazes pudessem escutar lá do palco e algumas poucas pessoas como eu apenas fecharam os olhos tentando ser levados para a tal maloca na beira do rio. Mas quem esteve se beijando esteve mais próximo disto. texto . matheus só