"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

7.5.10

O Retrato de Dorian Gray

O artista é o criador das coisas belas. Revelar a arte e ocultar o artista é a finalidade da arte. O crítico é aquele que pode traduzir, de um modo diferente ou por um novo processo, a sua impressão das coisas belas. A mais elevada, como a mais baixa, das formas de crítica é uma espécie de autobiografia. Os que encontram significações feias em coisas belas são corruptos sem ser encantadores. Isso é um defeito. Os que encontram belas significações em coisas belas são cultos. Para estes há esperança. Existem os eleitos, para os quais as coisas belas significam unicamente a Beleza. Um livro não é, de modo algum, moral ou imoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo. A aversão do século XIX ao Realismo é a cólera de Calibã por ver o seu rosto num espelho. A aversão do século XIX ao Romantismo é a cólera de Calibã por não ver o seu próprio rosto num espelho. A vida moral do homem faz parte do tema para o artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. O artista nada deseja provar. Até as coisas verdadeiras podem ser provadas. Nenhum artista tem simpatias éticas. A simpatia ética num artista constitui um maneirismo de estilo imperdoável. O artista jamais é mórbido. O artista tudo pode exprimir. Pensamento e linguagem são para o artista instrumentos de uma arte. Vício e virtude são para o artista materiais para uma arte. Do ponto de vista da forma, o modelo de todas as artes é a do músico. Do ponto de vista do sentimento, é a profissão do ator. Toda arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que buscam sob a superfície fazem-no por seu próprio risco. Os que procuram decifrar o símbolo correm também seu próprio risco. Na realidade, a arte reflete o espectador e não a vida. A divergência de opiniões sobre uma obra de arte indica que a obra é nova, complexa e vital. Quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo. Podemos perdoar a um homem por haver feito uma coisa útil, contanto que não a admire. A única desculpa de haver feito uma coisa inútil é admirá-la intensamente. Toda arte é completamente inútil. imagem . The Picture of Dorian Gray, de Albert Lewin, EUA, 1945 texto . The Picture of Dorian Gray, de Oscar Wilde, introdução