"Santas as visões, santas as alucinações, santos os milagres, santo o globo ocular, santo o abismo." (Allen Ginsberg)

29.10.10

Machuca

Nada apaga a ferida dos olhos que viram corpo tão amado estendido no chão, de roupa branca, mancha vermelha de sangue que antes era vida. Agora nada vira. Agora nada muda. Cadeiras cada vez mais vazias. A arma que fere e que mata silencia o grito? Não. O mesmo grito vai surgindo sempre, só que pelas bocas de outros. E o campo aberto. E os olhos lacrimosos. A lembrança de um amigo muito querido que se foi. Ou muitos... muitos melhores amigos preferidos perdidos... Nada muda. Nada serve de chão. Nada apaga. Nova muda - novo amigo. Cumulativo. Não existe ex-amigo como existe ex-amor. Os novos vão surgindo mas não ocupam o espaço dos velhos no coração. Daí a necessidade de bombar mais sangue, do coração ir tornando-se maior. Menage-à-true de leite condensado. Boca em boca - viver o gosto da saliva: que delícia de lambança. Maravilha que só quem já provou sabe o gosto. Em cima das rochas frias e duras, a saia da menina suspensa, olhando o lá. Delicada beleza rígida. Toda prosa, xinga a mãe na boléia do camião. Mauricinho, todo zinho, que tesão. Quase poesia. Quase prosa. Apenas um texto sem revisão. Divertir-se: eis o melhor mel. All the hours. All the words. Todo povo quer se sentir bem. Então o best of de cada um dia ser: aproveitar o melhor de cada lado sem se filiar a nada. Como vender bandeirinhas de partidos opostos nas passeatas, gritando os hinos com fervor, mas sem um hino particular que possa ser adotado. Por ter um hino que é muito próprio, gemido sem palavras, sem bandeiras. Malabar o pensamento - o pensamento, malabar. Também sem fronteiras. Dialogando sotaques, se entendendo em línguas distintas. Próprias palavras a esmo de compreensão. Sua alma? A palma da tua mão. Confundir, desestabilizar. Rir daqueles que ainda conseguem ter uma crença, uma convicção imutável. Rir daqueles que não sabem o que são - precisam de quem lhes diga. Em todo caso, ninguém sabe quem é, de qualquer maneira. Sorte de amor bandido. Antítese de plágio, cúmulo de homenagem, resenha redundante. Quem souber saber que leia. Quem da leitura for que saiba. Saiba... texto . matheus matheus com citação de caetano velloso e cazuza imagem . Machuca, de Andrés Wood, Chile/Espanha/Inglaterra, 2004

2 Comments:

Blogger ana f. said...

belíssimo!

3:41 PM

 
Blogger josi stanger said...

Lindo texto Matheus...

11:57 AM

 

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